Foto: Felipe Dama |
O alto número de mortes
confirmadas por chikungunya no Nordeste está desafiando médicos e pesquisadores
a buscar explicações do porquê de uma doença de taxa de mortalidade baixa
apresentar saltos fora do padrão normal. A doença é transmitida pelos mosquitos Aedes
aegypti e Aedes albopictus.
A chikungunya foi motivo
confirmado de 45 mortes no 1° semestre na região, contra 35 mortes por dengue e
cinco pelo vírus da zika. O número de mortes ainda deve crescer
consideravelmente, já que há outras 400 mortes por arboviroses em
investigação nesses Estados, todas sem causa confirmada.
O levantamento feito
pelo UOL inclui dados das secretarias estaduais de Alagoas,
Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. O
governo de Sergipe não indica a quantidade de mortes em seus boletins
divulgados nem a secretaria estadual de Saúde informou o número.
O Nordeste é a região do
Brasil que mais sofre com o vírus, segundo o Ministério da Saúde. Até o fim de
maio, 107 mil pessoas foram infectadas pela febre chikungunya --a região tem
87% das infecções registradas em todo o país. O número de pessoas infectadas no
Brasil em 2016 já é quase nove vezes maior que as registradas em todo o ano
passado: 13 mil.
Assim como dengue e zika, não
existe um tratamento específico para chikungunya. Os sintomas são tratados com
medicação para a febre e dores articulares.
Arte: UOL |
Gravidade da doença assusta
A dispersão da febre
chikungunya pelo Nordeste tem deixado um rastro de adultos e idosos com
dores crônicas graves que sobrecarrega os serviços de saúde, além de um número
ainda não explicado de mortes. Os boletins das secretarias de saúde
estaduais trazem aletas da gravidade da situação.
O cenário epidemiológico
das arboviroses urbanas em nosso Estado revela a ocorrência de grande
número de óbitos, caracterizando uma situação preocupante para a vigilância
epidemiológica"
Boletim do Rio Grande do Norte
No primeiro semestre de 2016,
o número de mortes por arbovirores cresceu 426% no Rio Grande do Norte. O
Estado é o que tem maior incidência de chikungunya do país.
Mais fatal que dengue
Os índices de mortes
apontados pelos Estados apontam para mais vítimas fatais entre os infectados
por chikungunya do que entre os infectados por dengue.
Em Pernambuco, Estado líder em
mortes pela doença na região, o índice de mortalidade de chikungunya é
seis vezes maior que o da dengue. Até junho, foram sete mortes confirmadas de
dengue para 19.304 pessoas infectadas (média de 0,4 morte para mil casos). Já
no caso da chikungunya, são 11.273 casos confirmados de infecção, com 26
mortes: 2,1 para cada mil casos.
O índice é maior do que o
apresentado na literatura médica. A letalidade de dengue nas Américas em 2014
foi de 0,7 óbitos por mil casos, enquanto o de chikungunya era de 0,2 por mil
casos.
O infectologista Kleber Luz,
integrante do grupo de cientistas do Ministério da Saúde que investiga o
problema, diz que essa taxa de mortalidade "aparentemente" maior
para a febre que no caso de outras arboviroses intriga os especialistas.
[As mortes] têm preocupado
muito a comunidade científica, realmente é um comportamento estranho da doença.
A expectativa é que a chikungunya não produzisse óbitos. A coisa ganhou uma
dimensão maior" Kleber Luz, professor da UFRN
Para o Ministério da Saúde, ainda é preciso investigar
mais detalhadamente as mortes por chikungunya "para que seja
possível determinar se há outros fatores associados, como doenças prévias,
comorbidades, uso de medicamentos, entre outros". Luz diz que o Ministério
da Saúde vai debater um protocolo
para investigar o problema. Ele diz que, no final de julho, um grupo da
comunidade científica deve se reunir em João Pessoa para essa discussão.
Foto; Luiz Tito/Folhapress A baiana Dannyelle Campelo, 32, toma diversos remédios devido à chikungunya |
Luz indica que há duas teorias
mais prováveis para as mortes. "Temos vistos alguns casos em que o vírus
tem invadido o sistema neurológico, causando encefalite grave, e em crianças
há um quadro clássico com múltiplas lesões de pele, mas isso já era
esperado. Uma outra possibilidade é que, no Brasil, a venda é livre de todos os
remédios, com exceção dos antibióticos; ao adoecerem e por terem muita dor, os
pacientes talvez estejam usando anti-inflamatórios e corticoides",
diz.
O uso de remédios pode, ao
mesmo tempo, tornar a doença mais grave e comprometer a imunidade dos
infectados. "É como se deixasse o caminho livre para o vírus matar",
explicou o infectologista.
A doença
A transmissão da febre
chikungunya foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2014. Os sintomas
da doença são: febre acima de 39 graus e de início repentino e dores intensas
nas articulações de pés e mãos. Pode ocorrer, também, dores de cabeça e nos músculos
e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver
sintomas.
Contra o avanço da doença
e reações mais graves, o Ministério da Saúde já formulou o Guia de Manejo Clínico, com orientações sobre o diagnóstico
precoce e manejo para profissionais de saúde.
Arte: UOL |
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