Uma substância derivada de árvores do ipê pode ser o
caminho para o tratamento de leucemias - diferentes tipos de câncer que afetam
os glóbulos brancos, células responsáveis pelo sistema de defesa do organismo.
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz e da UFF (Universidade Federal
Fluminense) identificaram três moléculas capazes de atuar sobre glóbulos
brancos cancerígenos, sem afetar as células saudáveis. A descoberta pode levar
à criação de fármacos específicos para o tratamento de diferentes tipos de leucemias.
O trabalho foi publicado na revista científica European Journal of Medicinal
Chemistry.
Os pesquisadores criaram as moléculas da união do
núcleo das células de outras duas substâncias e as testaram em quatro linhagens
diferentes de leucemia, duas de linfoide aguda, mais comum em crianças e com
prognóstico melhor; e duas de mieloide aguda, mais rara, mas responsável pelos
casos mais graves. Dos 18 compostos criados, 3 se mostraram mais potentes e com
seletividade maior - atacaram as células cancerígenas e, em menor grau, as
células saudáveis. E, principalmente, tiveram comportamento diferenciado em
relação às linhagens de leucemia. Uma delas se mostrou 19 vezes mais potente
sobre células de leucemia linfoide do que sobre as de leucemia mieloide.
O farmacêutico Floriano Paes Silva Junior, chefe do
Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do Instituto explicou o
processo.
— É a primeira vez que se investiga as moléculas
oriundas dessa estratégia de junção de núcleos em diferentes linhagens de leucemia.
E o mais importante é conhecer esse perfil de atividade de acordo com a
linhagem. A leucemia é um dos tipos de câncer que mais afetam crianças e por
trás da palavra leucemia se esconde uma grande diversidade de doenças. O grande
problema da terapia é a falta do medicamento específico para cada tipo de
leucemia.
As moléculas foram preparadas pelo grupo coordenado
pelos pesquisadores Fernando de Carvalho da Silva e Vitor Francisco Ferreira,
da UFF, com base no núcleo das células de duas substâncias. Uma delas é
derivada de um produto natural extraído do ipê. Esse núcleo pertence à classe
química das quinonas, segundo Silva.
— O que nós queremos é matar as células malignas, mas
as quinonas costumam ter baixa seletividade, ou seja, matam também as células
saudáveis.
Os cientistas combinaram, então, o núcleo da quinona
com o de outra molécula, chamada triazol, que tem a capacidade de atingir
somente as células cancerígenas. Silva Júnior ressalta que esse é o
"primeiro passo" para a criação de um fármaco. Mas testes e análises
ainda devem levar pelo menos dez anos.
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