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Além do Aedes aegypti, outros dois mosquitos podem ser infectados por zika

Aedes albopictus Foto:wikipedia
Dois estudos de pesquisadores brasileiros apontam que, além do Aedes aegypti, dois outros mosquitos podem ser infectados pelo vírus da zika. Em laboratório, os mosquitos Culex --o  pernilongo -- e Aedes albopictus – primo do aegypti que prefere áreas com vegetação — mantiveram o vírus ativo em seu corpo após a ingestão de sangue contaminado.

As experiências não são conclusivas sobre a transmissão do vírus por esses mosquitos -- a captura de animais infectados pelo vírus em campo pode reforçar essa tese. Uma pesquisa da USP com mosquitos recolhidos em São Paulo e em Sergipe analisará quais as espécies que carregam o vírus em áreas em que há infecção, e deve ter resultados até o fim de março.

Apesar de os estudos apontarem para a possibilidade de novos vetores, o Aedes aegypti ainda é considerado o principal responsável pela epidemia de zika no país.

Aedes de área urbana e de vegetação

A pesquisa feita pela Fiocruz do Rio de Janeiro, em parceria com instituições internacionais, indicou que 14 dias após a ingestão de sangue com zika, 10% dos Aedes aegypti e 3,3% dos mosquitos Aedes albopictus tinham partículas virais ativas na saliva.

O albopictus é uma espécie encontrada em áreas com mais vegetação, enquanto oaegypti tem característica urbana.

O estudo, que foi publicado na revista científica PLOS, sugere ainda que ambos os Aedes são menos eficientes na transmissão da zika que na de dengue ou da chikungunya -- sua capacidade de transmissão seria equivalente para zika e febre amarela.

Pernilongos infectados

A pesquisadora Constância Junqueira Ayres, da Fiocruz-Pernambuco, apresentou no Recife os resultados preliminares de uma experiência com pernilongos. Em laboratório, Culex foram infectados com o vírus da zika e mantiveram o vírus ativo em sua na glândula salivar.

"Isso aponta que o Culex é provavelmente um potencial vetor de zika", explica a bióloga. A pesquisa, no entanto, não testou até o momento a transmissão do vírus.

O Culex, uma espécie de hábitos noturnos e muito comum no Brasil, é comprovadamente um vetor para outros vírus, como o que causa a encefalite japonesa e a febre do Nilo Ocidental.
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS/Estadão Conteúdo
O mosquito Aedes aegypti, que vive em áreas urbanas e se reproduz em água parada, é considerado o principal vetor
Para o entomologista Luciano Moreira, os dados "ainda são muito preliminares. É cedo para apontar o Culex como vetor". 

Capturas em áreas infectadas apontarão o transmissor

O virologista Paolo Zanotto, da USP, explica que o grupo de vírus do qual a zika faz parte --arbovírus-- é conhecido por ter capacidade de explorar diferentes vetores. 

Segundo ele, se for comprovada a transmissão do vírus da zika por albopictus ouCulex, isso poderia representar a chegada desse vírus em outras regiões do mundo.

"Precisamos ficar de olho na possibilidade. Mas a importância epidemiológica disso a gente ainda não sabe", lembra o pesquisador, que reforçou a importância do combate ao Aedes neste momento. 

Em São Paulo e em Pernambuco, grupos de pesquisa agora buscam mosquitos em locais onde há grande número de pessoas infectadas por zika, dengue e chikungunya para analisar quais são as espécies de mosquito que aparecem infectadas e por quais vírus.

"É muito diferente trazer o mosquito para o laboratório e ver que ele fica infectado. Ele pode até ter o vírus na saliva, mas não necessariamente ele faz parte da epidemia da transmissão. Uma coisa é a competência vetorial e outra é saber se ele participa da transmissão em campo". Margareth Capurro, bióloga da USP.

Os grupos devem capturar diversas espécies de mosquito para checar qual é o tipo de mosquito que aparece em maior número e por qual vírus ele está infectado. Se, por exemplo, em uma área de epidemia de zika houver grande número de mosquitos aegypti infectados por zika e poucos culex com o vírus, o aegypti será apontado como responsável pela epidemia.

No entanto, se em uma área de epidemia de zika os mosquitos que aparecem em maior número infectados pelo vírus forem o culex ou o albopictus, é um forte indicativo de que outros mosquitos participam da infecção. 

A pesquisa coordenada por Capurro deve ter seus primeiros resultados ainda no final de março. 



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