São Paulo –
Um mosquito transgênico aguarda o aval da Anvisa para ser uma arma
no combate aos vírus zika, dengue e
chikungunya no Brasil. O Aedes aegypti modificado foi criado pela Oxitec, uma
empresa britânica que foi comprada pela Intrexon por 160 milhões de dólares em
agosto do ano passado – quando já havia uma epidemia de zika no
Brasil.
Em um teste
realizado na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, o mosquito da
Intrexon, também conhecido como Aedes "do bem", ajudou a reduzir a
população do Aedes aegypti. Segundo a empresa e a prefeitura, a população de
mosquitos em uma área tratada foi 82% menor quando comparada com um local que
teve o mesmo tratamento.
O que
acontece é que esse inseto modificado, com uma microinjeção de DNA com dois genes ainda no
estágio de ovo, estimula a produção de uma proteína a níveis anormais. Com
isso, seus descendentes vivem de 2 a 4 dias e não conseguem chegar à fase
adulta, que é quando se tornam transmissores de doenças.
Os
mosquitos transgênicos se reproduzem em Campinas atualmente e a Oxitec tem
planos de criar uma nova fábrica em Piracicaba. Com esses espaços em
funcionamento, a empresa acredita que pode ajudar a reduzir a quantidade de
Aedes aegypti em cidades como São Paulo.
Em
entrevista a EXAME.com. RJ Kirk, CEO e presidente do Conselho da Intrexon (dona
da Oxitec), afirmou que pretende investir tanto quanto necessário para reduzir
o surto de zika, dengue e chikungunya no Brasil. No entanto, ele precisa da
aprovação da Anvisa – o que acredita que acontecerá em breve.
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Kirk diz
que não é simples estimar quantos mosquitos modificados precisam ser liberados
no Brasil para que haja uma redução significativa do contágio das doenças
causadas pelo Aedes.
"A
fórmula é complexa e foi desenvolvida ao longo de anos de pesquisa. Precisamos
estimar a densidade da população humana de uma região versus a sua população de
mosquitos e, então, temos que avaliar as condições gerais do local. Fora isso,
tem a questão do tempo. Digamos que o governo não queira gastar muito de uma
vez e opte por um plano de atuação de dez anos. Com a meta de atingir cobertura
da área de 50% em 5 anos, começaríamos a tratar primeiramente as capitais. Se
podemos ajudar uma cidade como São Paulo? Com certeza", declarou Kirk.
O CEO conta
que não previu que o surto de zika aconteceria tão cedo e em tão larga escala
(a OMS declarou emergência internacional por causa do vírus em fevereiro), o
ano em que a Intrexon comprou a Oxitec. Mas afirma que a dengue já era um
problema grave no Brasil e que o zika, assim como os casos de microcefalia
potencialmente relacionados ao vírus (o que Kirk diz ser algo
"terrível"), apenas colocou o problema de saúde pública causado pelo
Aedes em destaque.
O motivo da
compra da Oxitec seria o seu avanço científico nesse campo de pesquisa.
"Estudamos modificação genética de insetos por anos e, como parte desse
trabalho, notamos que a Oxitec tem uma vantagem de 12 anos sobre qualquer outro
concorrente. Essa tecnologia veio da Universidade de Oxford [de onde nasceu a
Oxitec]. Eles criaram o processo mais barato, seguro e neutro para o meio
ambiente", declarou Kirk.
Enquanto a
Anvisa avalia a atuação da Intrexon no Brasil, os casos de doenças transmitidas
pelo Aedes aegypti chegaram a mais de 2 milhões no ano passado e podem ser mais
de 1,3 milhão neste ano, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde.
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