Segundo nova pesquisa, entre esses hábitos estão alimentar-se bem, exercitar-se e não exagerar no álcool
Adotar um estilo de vida saudável pode de
reduzir pela metade o risco de acidente vascular (AVC) isquêmico entre o sexo
feminino. Segundo uma pesquisa publicada nesta quarta-feira, mulheres que se
alimentam corretamente, praticam exercícios, consomem álcool com moderação, têm
um peso saudável e não fumam são 54% menos propensas a apresentar o problema.
O estudo, divulgado na revista médica Neurology,
foi feito na Suécia com 31 696 mulheres de 60 anos, em média. Todas responderam
a um questionário com 350 perguntas sobre alimentação e estilo de vida. A
partir disso, os pesquisadores as acompanharam por dez anos.
O estudo considerou que um estilo de vida
saudável incluía os seguintes fatores: beber álcool moderadamente (até três a
nove doses por semana); seguir uma dieta saudável (medida pela quantidade e
frequência do consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis); praticar
atividade física (pelo menos 40 minutos de exercícios aeróbicos por dia e uma
hora de atividades de força por semana); manter um peso saudável (com IMC de
até 25); e não fumar.
Entre as participantes do estudo, apenas 589
(ou 1,8%) apresentavam todos esses fatores de estilo de vida saudável. Por
outro lado, 1 535 (4,8%) mulheres não mantinham nenhum desses cinco hábitos.
Hábitos — A pesquisa mostrou que cada
fator de vida saudável é capaz de, sozinho, diminuir o risco de sofrer um
derrame. Seguir uma dieta correta, por exemplo, contribui com uma redução de
13% desse risco, enquanto não fumar evita 17% dos casos de AVC em um período de
dez anos, por exemplo. Já a prática de atividade física pode prevenir 9% dos
derrames. Além disso, segundo o estudo, todos os cinco hábitos, juntos, reduzem
em 54% o risco de AVC em mulheres em comparação com não apresentar nenhum
desses fatores.
“Pelo fato de as consequências de um derrame
serem devastadoras e irreversíveis muitas vezes, a prevenção é muito
importante. Os nossos resultados são animadores pois indicam que dieta e
estilo de vida saudáveis podem reduzir o risco do problema substancialmente, e
esses fatores são escolhas que as pessoas podem fazer ou então melhorar”, diz
Susanna Larsson, pesquisadora do Instituto Karolinska, na Suécia, e
coordenadora do estudo.
Controlar a Pressão Arterial
A hipertensão é a principal desencadeadora do
AVC, isquêmico ou hemorrágico. Ela pode causar lesões nas paredes internas das
artérias, tornando-as menos elásticas e mais predispostas a entupimento e
endurecimento. "O tratamento da hipertensão, feito por meio de
medicamentos, dieta e prática de atividade física, diminui em 90% o risco de um
derrame em hipertensos", afirma Adriana Conforto, neurologista chefe do
Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Segundo ela, um estudo feito no Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que
80,5% dos pacientes admitidos por AVC isquêmico no pronto-socorro apresentavam
antecedente de hipertensão arterial.
Exercite-se
A prática de atividades físicas pode ajudar
no controle do peso, na saúde do coração e na redução do risco de diabetes,
hipertensão arterial e formação de coágulos sanguíneos — condições que podem
levar ao derrame. Assim, exercitar-se melhora diversos fatores que aumentam o
risco de AVC.
Monitorar o peso
A obesidade e o sobrepeso podem desencadear
hipertensão e diabetes, fatores de risco do AVC. "Quem está acima do peso
tem maior probabilidade de sofrer um derrame", diz Antonio Cezar
Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9
de Julho, em São Paulo.
O cálculo do índice de massa corpórea (IMC),
medida que relaciona altura, peso e nível de gordura, ajuda a determinar se o
indivíduo está com o peso idea
Reduzir o colesterol
Altos níveis de LDL (conhecido como
colesterol "ruim") no sangue favorecem a aterosclerose, que se
caracteriza pela formação de placas de gordura nas paredes das artérias. A
doença estreita e enrijece esses vasos e dificulta o fluxo sanguíneo. A lesão
na parede das artérias pode, ainda, levar à formação de coágulos e, logo, ao
AVC isquêmico. Uma dieta saudável e pobre em gorduras saturadas e trans ajuda a
proteger a saúde cardiovascular.
Tratar o diabetes
O diabetes é o segundo principal fator de
risco do AVC, por piorar a hipertensão arterial e contribuir na formação da
aterosclerose. "O diabetes enrijece a parede arterial, que favorece o
acúmulo de gordura no vaso, aumenta os níveis de insulina no sangue e altera o
sistema circulatório e metabólico", diz Caio Focássio, cirurgião vascular
da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e
Cirurgia Vascular. Esse cenário facilita o surgimento de coágulos, que podem
chegar ao cérebro, obstruir uma artéria e, assim, levar ao AVC isquêmico.
Seguir uma dieta balanceada
Alimentar-se bem é crucial para controlar o
peso, a hipertensão, o diabetes e o colesterol. De acordo com Adriana Conforto,
os três principais mandamentos de uma dieta anti-AVC são ingerir sal
moderadamente (isto é, consumir no máximo 3 colheres [café] rasas por dia),
comer oito a dez porções de frutas, verduras e legumes diariamente e, por fim,
manter distância de alimentos gordurosos, principalmente aqueles com altos
níveis de gorduras saturadas — como frituras e manteiga.
Ter uma gravidez saudável
A pré-eclâmpsia, doença que atinge entre 6 e
10% das gestantes, aumenta a pressão arterial e causa uma perda de proteínas
pela urina na fase final da gravidez. Segundo a Associação Americana do
Coração, mulheres com pré-eclâmpsia têm duas vezes mais probabilidade de sofrer
um derrame — condição que, por sua vez, atinge três em cada 10 000 grávidas. A
recomendação geral é que mulheres enquadradas no grupo de risco (aquelas com
hipertensão crônica, diabetes e obesidade, por exemplo) tomem doses baixas de
aspirina a partir do segundo trimestre de gestação. O médico decidirá o melhor para
cada caso.
Manter a saúde cardíaca em dia
Doenças cardíacas podem formar coágulos no
sangue e levar ao AVC isquêmico. São exemplos de moléstias relacionadas ao
derrame a fibrilação atrial crônica, que é quando o coração bate num ritmo
anormal e irregular, e a trombose coronariana, na qual uma artéria é bloqueada
por um coágulo. A fibrilação atrial costuma ser controlada com medicamentos
anticoagulantes e a trombose coronariana, popularmente conhecida como infarto
do miocárdio, com antiagregantes. "Sobreviventes de um infarto do
miocárdio podem ter mais placas de gordura pelo corpo, que levam aos coágulos.
Esses trombos podem causar tanto um novo infarto, quanto um AVC. A diferença
entre os dois é a localização da obstrução arterial", explica Álvaro
Pentagna, neurologista do hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.
Não fumar
Substâncias presentes no cigarro, como a
nicotina, favorecem a degradação da parede arterial e, por isso, a formação de
placas de gordura aderidas nos vasos. "Além disso, o cigarro tem
componentes que promovem a coagulação, facilitando a formação de trombos e,
consequentemente, do derrame", explica o cirurgião vascular Caio Focássio.
Beber álcool com moderação
O consumo exagerado de álcool faz com que o
organismo desenvolva distúrbios de coagulação, como a aterosclerose,
atrapalhando a circulação sanguínea. "Beber muito álcool favorece hipertensão
arterial, doenças cardiovasculares e transtornos metabólicos que comprometem a
circulação sanguínea cerebral, predispondo ao AVC", diz a médica Elizabeth
Batista, coordenadora de neurologia do hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro.
A neurologista Adriana Conforto recomenda a
dose máxima de álcool diária de 30 gramas para o homem (equivalente a duas
latas de cerveja ou duas taças de vinho de 150 ml ou duas doses de uísque de
50ml) e 15 gramas para a mulher (metade dessas doses).
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